Atualmente vários “católicos”, para andar com as máximas do mundo, pautando-se por princípios deste, querem defender aquilo que na doutrina católica sempre foi e sempre será visto como causa de escândalos e imoralidade. Uma das questões na moda é dizer que se pode usar biquíni ou sunga, ou roupas coladas na academia, ou roupas curtas em “baladas”. Tudo isso seria possível porque, segundo eles, o problema está nos olhos de quem vê ou que a doença se encontra na mente de quem deseja aquilo que observa e, por isso, precisa purificar o corpo (o olhar) e a alma. Quantos absurdos não são ditos por esses católicos, em geral liberais modernistas, que desconhecem ou que ignoram a doutrina de sua própria Igreja?
Pois bem, com a devida vênia a estes, tal resposta está completamente errada. Para iniciar nosso argumento mostrando o erro de tal resposta, partamos de um princípio primeiro mencionado nas Sagradas Escrituras, que são inerrantes. Diz, com efeito, o Apóstolo São Paulo, em I Timóteos II, 9 e 10:
“Que as mulheres andem com trajo honesto, ataviando-se com modéstia e sobriedade, e não com cabelos encrespados, ou com ouro ou pérolas ou vestidos custosos, mas sim como convém a mulheres que demonstram a piedade por boas obras”.
São Paulo exorta a modéstia nas pessoas. É possível supor que este Santo Apóstolo tinha Maria Virgem como exemplo. Chegarei a este ponto. E este não é um trecho bíblico descontextualizado, como veremos aqui. Erram tais católicos, então, de três formas principais: com base no Magistério, com base nos santos e com base na Teologia Moral. Permitam-me explicar. Primeiro, a resposta está errada porquanto o próprio catecismo os contradizem, ensinando aquilo que é correto. Façamos aqui a definição dos termos, a fim de que possamos pensar da mesma forma.
Com efeito, o Catecismo Maior, publicado pelo Papa São Pio X, ensina claramente acerca do escândalo, da impureza e da modéstia. O escândalo (Questão 415) é qualquer palavra, ação ou omissão que seja ocasião para os outros de cometer pecados; este é um pecado grave (Questão 416) porque tende a destruir a maior obra de Deus, que é a redenção, com a perda das almas: pois que ele [o escândalo] dá ao próximo a morte da alma tirando-lhe a vida da graça, que é mais preciosa que a vida do corpo; e porque é causa de uma multidão de pecados. Por isso, Deus ameaça os escândalos com os mais sérios castigos. A impureza (Questão 425), por outro lado, é um pecado gravíssimo e abominável diante de Deus e dos homens; rebaixa o homem à condição dos irracionais, arrasta-o a muitos outros pecados e vícios, e provoca os mais terríveis castigos de Deus nesta e vida e na outra.
Causa certa dificuldade, num primeiro momento, acerca do termo “ocasião para o pecado”. Mas esta dificuldade é só aparente. Com efeito, declarou o Cardeal Pla y Daniel, Arcebispo de Toledo, Espanha, em 1959: “Um perigo especial para a moral é representado por banhos nas praias… O banho misto entre homens e mulheres, que é quase sempre uma ocasião próxima de pecado e um escândalo, deve ser evitado”. A ocasião próxima de pecar, assim sendo, é aquele perigo externo que, atendendo à condição ou fragilidade de uma pessoa qualquer, de tal maneira a incita ao pecado, que posta em tal perigo se pode ter por certo ou por muito provável que cairá. Dessa forma, é extremamente útil que se evite a ocasião próxima para não se cair num pecado mortal pois, como diz Eclesiástico, “quem ama o perigo morrerá nele”.
Ainda, de acordo com o Denzinger, considerando a questão da ocasião próxima de pecado, o papa Inocêncio VI CONDENOU as seguintes proposições laxistas: “60. A absolvição não deve ser negada e nem mesmo adiada a um penitente que peca de modo habitual contra a lei de Deus, da natureza ou da Igreja, também se não se manifesta nenhuma esperança de correção, contanto que proclame com a boca o sentimento de dor e o propósito de correção”; “61. Às vezes pode ser absolvido aquele que se encontra numa ocasião próxima de pecado, que ele pode mas não quer deixar, mas que antes procura de modo direto e de propósito ou a ela se expõe”; “62. Não se deve fugir da ocasião próxima de pecado quando se apresenta algum motivo útil ou justo para não fugir dela”; “63. É lícito procurar de modo direto a ocasião próxima de pecado para o bem espiritual ou material nosso ou do próximo”. Tais proposições foram condenadas no século XIV, mas valem, é claro, até hoje.
Aqui, todavia, alguém poderia objetar: mas, no caso das pessoas que vestem biquíni ou sunga, há aquelas que o fazem por ignorância, não sabem que é pecado e, por faltar-lhes o conhecimento, por isso não pecam, de maneira análoga àquele que, por ignorância perdoável, vive em erro, mas não é herege perante Deus (como alguém que foi educado no protestantismo, por exemplo, e nunca teve ocasião de se instruir seriamente na religião católica). Mas, em contrário, o Catecismo da Doutrina Cristã (Questão 177): “Quais são os pecados contra a Fé? Os pecados contra a Fé são todas as falsas religiões, dúvida voluntária, descrença ou negação de qualquer artigo de Fé, e também ignorância culpável das doutrinas da Igreja”; e ainda o papa Inocêncio II, no Sínodo de Sens, condena a seguinte proposição: “Não se deve atribuir culpa a qualquer coisa feita por ignorância”.
Para este objetor, podemos responder o seguinte. Sabemos que, para que haja o pecado, é preciso a reunião de três elementos: 1) que a matéria seja grave; 2) que o espírito tenha pleno conhecimento da culpabilidade da ação que se comete, ou da omissão que se permite, ou da ocasião a que se expõe; 3) que a vontade se decida plenamente por uma preferência pela ação proibida, ou pela omissão culpável, ou pela ocasião perigosa. Sobre a ignorância, como ensina Tanquerey, no seu Compêndio de Ascética e Mística: “O entendimento foi-nos dado para conhecer a verdade. Deus sobretudo e as coisas divinas. Deus é que é o verdadeiro sol dos espíritos; ilumina-nos por meio de duas luzes, a luz da razão e a da fé. No estado presente, não podemos chegar à verdade integral sem o concurso delas ambas; menosprezar uma ou outra é cegar-se a si mesmo. E tanto mais importante é disciplinar a inteligência quanto é certo que é ela que ilumina a vontade e lhe permite orientar-se para o bem; é ela que, com o nome de consciência, é a regra da nossa vida moral e sobrenatural. Mas, para ser assim de facto, é indispensável mortificar as suas tendências defeituosas. Eis as principais: a ignorância, a curiosidade e a precipitação, o orgulho e a teimosia. A ignorância combate-se pela aplicação metódica e a constante ao estudo, mormente ao estudo de quanto se refere a Deus, nosso fim último, e aos meios de o alcançar. E na verdade, bem desarrazoado seria ocupar-se o homem de todas as ciências e descurar a da salvação”.
Pois bem, aqui há também algo além a ser considerado: se a ignorância é vencível (culpável) ou invencível. Com efeito, Santo Tomás de Aquino (no Tratado dos vícios e pecados, Ia, IIae pars), na Questão 76, trata da ignorância, causa do pecado, concernente à razão. Verificando se a ignorância escusa totalmente do pecado, diz nosso Doutor Comum que pode a ignorância, em si mesma, não escusar do pecado, quando voluntária. E isto de duas maneiras: diretamente e indiretamente. Diretamente, se, de propósito, queremos nos manter na ignorância para pecarmos mais livremente; ou indiretamente, como quando, em virtude do trabalho e de outras ocupações, somos negligentes em aprender o que nos levaria a evitar o pecado. Pois tal negligência torna a própria ignorância voluntária e pecaminosa, contanto que recaia sobre o que deveríamos e podíamos saber. E, portanto, essa ignorância não escusa totalmente do pecado. E nisto Santo Tomás segue a Santo Agostinho, quando este explica que certos atos praticados por ignorância são justamente reprovados. Como se vê, é bem provável que a grandíssima maioria das mulheres que usam biquínis e dos homens que usam sungas, nas praias e em outros lugares, peca gravemente, mesmo que possuam ignorância vencível (ou seja, deveriam conhecer a doutrina, sobretudo no Ocidente, onde a doutrina católica está quase que completamente disseminada).
Tratando agora sobre a modéstia, a obra “A perfeição cristã” trata sobre esta virtude no Capítulo XXI. Define modéstia como: a virtude que nos inclina a guardar a devida moderação, a devida compostura e decoro em todas as nossas ações e movimentos exteriores. Num sentido mais lato, a modéstia tem por objeto moderar também certo movimentos internos desordenados, do entendimento e da vontade; isto é o que diz, também, Santo Tomás de Aquino, em sua Suma Teológica, que o objeto da modéstia não são somente os atos externos, mas também os atos interiores. A modéstia é um sermão mudo, porém eloquente, mais, sem dúvida alguma, que muitos discursos. São Paulo, escrevendo aos Filipenses, dizia-lhes: “Seja a vossa modéstia patente a todos os homens”. Aos Colossenses, escreveu o Apóstolo dos Gentios: “Como escolhidos que sois de Deus, santos e amados, revesti-vos de sentimentos de compaixão…, de humildade, de Modéstia”. Por fim, na sua epístola aos Gálatas, este santo apóstolo enumera a modéstia entre os frutos dados doados pelo Espírito Santo. Como se vê, aquele primeiro princípio que usei no início do texto não está descontextualizado.
Na página 453 da obra “A perfeição cristã”, é explicado que a modéstia exterior versa principalmente sobre três pontos: os modos, as palavras e o vestuário. Por modos entendemos a apresentação exterior da pessoa, o semblante, o porte, o olhar, os movimentos do corpo, da cabeça, dos braços, pernas, etc. A modéstia pede que nossos modos sejam um conjunto harmonioso de naturalidade, de simplicidade, de franqueza, de bondade, de doçura, de honestidade, de delicadeza, de ponderação… qualidades que longe de tomarem a nossa modéstia afetada, leviana ou repulsiva, a fazem amar e respeitar por todos os que a vêem (exceto por aqueles que são do mundo); e é assim que esta virtude nos aperfeiçoará e exercerá à nossa volta uma influência salutar ao nosso redor.
Em segundo lugar, a modéstia nas palavras condena um afetado e inoportuno mutismo como uma excessiva loquacidade, ou o emprego de palavras pouco honestas, bruscas, faltas de caridade, arrogantes e pomposas. O nosso modo de falar deve ser moderado, tanto no tom da voz como na simplicidade das expressões. A nossa linguagem deve ser humilde, tranquila, afável, discreta, edificante, caritativa; deve respirar bondade, pureza, cordialidade, doçura e santa alegria.
Finalmente, devemos ser modestos à maneira de vestir. Falando em geral para o comum das pessoas piedosas, a regra que prescreve a modéstia cristã é que cada um se vista segundo o pede o seu estado e condição, assim como as circunstâncias do tempo, lugar, companhia, e ocasiões diversas em que se encontre. Quanto ao vestuário, deve-se evitar também, como nas palavras e nos modos, o exagero, a saber: por um lado a falta de asseio, a porcaria e o desalinho; por outro os vãos adornos, o luxo e a desonestidade. E acrescento: a falta de roupa (como também a roupa sensual) não estaria também nesse rol de coisas no vestuário a serem evitadas? A doutrina católica diz que sim.
Aqui, entretanto, não devemos pensar que, quanto a circunstâncias do tempo e lugar, as pessoas poderiam usar biquínis ou sungas. Como explica a obra “A perfeição cristã”, é ainda mais censurável a falta de honestidade e decência na forma e maneira de vestir. “Causa pena, certamente, ver o triste espetáculo que oferece a sociedade moderna, a qual pelo luxo desmedido, ruína das casas e das famílias, e pela imodéstia desavergonhada das modas, ruína e perdição de muitas almas, dá sinal de caminhar a passos largos para o mais degradante paganismo. E o mais doloroso é que não só rendem culto a tais modas desonestas as pessoas que chamamos mundanas, mas também jovens e senhoras, mães e filhas de família, que se têm e querem ser tidas por piedosas, e que, não obstante, não têm cuidado em colocar-se pelo seu modo de vestir ao nível das primeiras, e ainda se atrevem a apresentar-se nos templos e chegar-se ao confessionário, e até abeirar-se da sagrada Mesa do modo mais imodesto”.
Com efeito, o papa Bento XV, na sua Encíclica Sacra Propediem, de 8 de Janeiro de 1921, promulgada por motivo do centenário da fundação da Venerável Ordem Terceira de S. Francisco, se exprimia nestes termos: “Desde este ponto de vista não podemos deixar de condenar a cegueira de quantas mulheres de todas as idades e condições; feitas tontas pelo desejo de agradar, elas não veem a que nível a indecência de suas vestes. Chocam a todo homem honesto, e ofendem a Deus. […] A maioria delas teriam, em outras épocas, se envergonhado com esses estilos por grave falta contra a modéstia cristã; e já não é suficiente que elas se exibam na via pública; elas não têm medo de cruzar as portas da Igreja, a assistir o Santo Sacrifício da Missa, onde recebemos o Autor celeste da pureza”. Aqui se foca nas mulheres por que claramente a moda mais atinge a elas, como pode ser visto na realidade.
E mais. Em 12 de janeiro de 1930, a Sagrada Congregação do Concílio, por mandato do Papa Pio XI, emitiu instruções enfáticas a todos os bispos sobre a modéstia no vestir: “Recordamos que um vestido não pode ser chamado de decente se é cortado mais que a largura de dois dedos sob a cova da garganta, se não cobre os braços pelo menos até os cotovelos, e se mal chega até um pouco abaixo dos joelhos. Além disso, os vestidos de materiais transparentes são impróprios. Que os pais mantenham suas filhas longe dos jogos e apresentações públicas de ginástica; mas, se suas filhas são obrigadas a assistir a tais exibições, que observem que vão totalmente vestidas e de forma modesta. Que nunca permitam que suas filhas usem vestimenta imodesta”. Já o Papa Pio XII, 24 anos depois, mencionou: “Agora, muitas meninas não vêem nada de errado em seguir certos estilos desavergonhados (modas), como fazem muitas ovelhas. Certamente se ruborizariam se pudessem adivinhar as impressões que fazem e os sentimentos que evocam (excitação) naqueles que as vêem”.
Por fim, comento acerca daquilo que disse São Francisco de Sales em sua obra “Filoteia”. Menciona este santo: “Não se oferecem muitas vezes ocasiões de praticar a fortaleza, a magnanimidade, a paciência; mas a brandura, a temperança, a modéstia, a honestidade e a humildade são virtudes cujo espírito e caráter se devem manifestar em todas as nossas ações. As primeiras são mais excelentes e sublimes, mas as últimas são mais praticadas; dá-se aqui o que vemos com o sal e o açúcar; sendo este mais excelente, não é, contudo, usado tantas vezes e tão geralmente. Por isso nunca nos deve faltar uma boa provisão destas últimas virtudes, tão gerais e comuns”.
Dessa maneira, os puros de coração, ensina a Questão 930 do Catecismo Maior, que não têm nenhum afeto ao pecado, sempre se afastam do pecado e evitam, sobretudo, toda e qualquer espécie de impureza. Pergunto então a estes “católicos” liberais modernistas: já que não é pecado vestir-se de biquíni, perpassa pelo seu espírito que Maria Virgem – nossa querida Mãe Celestial, bem-aventurada, cheia de graça, corredentora que participou da redenção de Nosso Senhor, mediadora de todas as graças, e tantos outros adjetivos que jamais serei capaz de pronunciar – perpassa pelo seu espírito que Maria Virgem pudesse usar biquínis mesmo se, naquela época, fosse algo comum entre os povos, como é atualmente? Ora, se não é pecado, então Nossa Senhora, em quem não há pecado nem mácula do pecado original, pode fazer; nas palavras de Santo Ambrósio: “a vida de Maria pode servir de regra a todas as vidas”. Mas mesmo estes, na parte mais profunda da alma, sabem que isso é impossível, justamente por ser um pecado mortal. Falando de nossos dias, Nossa Senhora de Fátima profetizou de modo lapidar: “Hão de vir muitas modas, que hão de ofender muito a Nosso Senhor. As pessoas que servem a Deus não devem andar na moda. A Igreja não tem modas, e Nosso Senhor é sempre o mesmo” e São Padre Pio de Pietrelcina, quase neste mesmo período, referindo-se aos escândalos e às ofensas ao pudor, dos quais então se podiam apenas entrever alguns tímidos indícios, disse: “Não poderíamos nascer num século pior!”.
Mas alguém poderia objetar: ora, aquela era uma outra época, tanto de Jesus Cristo quanto do papa São Pio X, os costumes são outros atualmente, as pessoas já estão acostumadas com biquínis e sungas, roupas apertadas e “baladas”, devemos nos adequar o mundo. A questão aqui é que estamos falando de princípios que são absolutos, e que não mudam de época para época. Se mudassem, se a Igreja evoluísse, se os dogmas evoluíssem, nós não teríamos mais a Igreja Católica, pois Ela seria somente um clubinho que muda suas regras de tempos em tempos para se adequar ao mundo (quando é justamente o contrário que deve ocorrer). Deus, que é o Sumo Ato, a Causa das causas, o Primeiro princípio, não pode se enganar e nem nos enganar. Os princípios que Ele estabeleceu tanto nas Sagradas Escrituras quanto na natureza são princípios inabaláveis e absolutos, os quais nos mantêm em solo rígido, não em areia movediça, com vãs filosofias e afago ao mundo.
O conselho, dessa forma, não é para que as mulheres usem biquínis, mas para que elas pratiquem a modéstia. Só as mulheres? Não! Elas e também os homens, todos devemos praticar! Diz Santo Ambrósio: “Quão belo não seria se bastasse te apresentares em público para fazeres bem aos outros”. Ensina também São Francisco de Sales em seu Filoteia: “procura a companhia de pessoas castas e virtuosas; ocupa-te muitas vêzes com a leitura da Sagrada Escritura; porque a palavra de Deus é casta e torna castos os que a amam”. E complementa: “conserva-te ao lado de Jesus Cristo crucificado, quer espiritualmente, pela meditação, quer real e corporalmente, na santa comunhão. Sabes de certo que os que se deitam sôbre aquela erva agnus castus vão tomando insensivelmente disposições favoráveis à castidade; estejas certa que, se teu coração descansar em Nosso Senhor, que é realmente o Cordeiro Imaculado, bem depressa purificarás tua alma, teu coração e teus sentidos, inteiramente, de todos os prazeres sensuais”.
O mundo nos odiará ao falar a verdade? Com certeza, mas de que adianta ganhar o mundo e perder a alma? Mas lembrem-se, por exemplo, daquilo que pedimos ao rezar o Rosário de acordo com o método de São Luís Maria de Montfort, quando recitamos aquele mistério no qual colocam a coroa de espinhos em Nosso Salvador. Neste exato mistério pedimos o DESPREZO DO MUNDO. Lembrem-se: Nosso Senhor Jesus Cristo foi desprezado, continua a ser desprezado e sempre será desprezado; se Ele foi desprezado, por que não seríamos? E Jesus é desprezado também, infelizmente, por membros do clero e “católicos” liberais modernistas que não querem dizer a verdade, por causa do julgamento do mundo. Devemos carregar nossas próprias cruzes. A glória não nos foi reservada nesse mundo, de modo que não existe pregação da verdade sem condenação de erros ou heresias.
Ademais, o interessante é pensar que tais pessoas têm acesso a tudo isto que eu mencionei, refiro-me à doutrina da Santa Igreja, esta doutrina bimilenar com tantas grandíssimas obras escondidas. É um tesouro inigualável na Terra, que foi colocado aqui por aqueles a quem Deus ofereceu graças especiais para que assim o fizessem. Falo, dessa maneira, dos santos, os quais deixaram tantas obras para nós, meros pecadores. E como aqui me refiro aos santos, quero, por sinal, citar certas frases que eles comentam acerca da impureza no vestir. Tais menções, como se vê, entram em consonância com tudo aquilo que está dito aqui, com as Sagradas Escrituras e com o Magistério. Com efeito, os santos dizem o seguinte:
- “As pessoas vestidas de maneiras indecentes são instrumentos de Satanás que se serve delas para perder as almas”. (São Bernardo)
- “Quando alguém se veste com a intenção de atrair os olhares, já não se pode pretender que seja casto e pudico na sua alma: o vestuário o convencerá da mentira”. (São Filipe Néri)
- “Para aquelas que os sentidos são tudo, os costumes são nada”. (São Cipriano)
- “Como o fogo forma a cinza, e depois ela serve para cobrir e manter o fogo, assim o interior produz a modéstia exterior, e depois serve para manter e conservar a virtude interior donde procedeu”. (São Francisco de Sales)
- São Luiz Gonzaga não deixava nem os pés descobertos, porque considerava a pureza como um límpido espelho, que ao menor sopro fica logo embaçado;
- “Se te sentes tentado pela intemperança, alimenta-te com o Corpo e o Sangue de Cristo, que na vida terrena praticou com excelência a sobriedade, e tornar-te-ás temperante. […] Se tu te sentes arder pela febre da impureza, aproxima-te do banquete dos anjos, e a carne imaculada de Cristo te fará puro e casto”. (São Cirilo de Jerusalém)
- Diz Bernardo Gui, em sua obra Vida, a qual conta a história de Santo Tomás de Aquino, o seguinte acerca deste nosso santo. Os irmãos de Santo Tomás o prenderam num castelo da família Aquino e tentaram, de diversas formas, persuadi-lo a largar o hábito dominicano. Uma dessas tentativas foi feita por meio de uma mulher amável, mas sem vergonha, uma víbora em forma humana, nas palavras de Gui. Ela foi autorizada ao quarto onde Tomás se encontrava solitário, para corromper sua inocência com palavras e toques lascivos. Mas se ela esperava um homem, ela encontrou um anjo. E ainda – que ‘a força é mostrada mais perfeitamente através da fraqueza’ – o jovem corpo de Tomás sentiu um estímulo; mas rapidamente controlou pela sabedoria e alma viril; somente na carne ele foi adolescente. Castidade e indignação saltaram juntas. Lançando-se ao fogo que queimava em seu quarto, Tomás tomou uma lenha ardente em chamas e expulsou a sedutora, a portadora do fogo da luxúria. Então, com seu espírito ainda em chamas, ele desenhou na parede do quarto, com a ponta carbonizada da lenha, o sinal da cruz sagrada; e caiu no chão chorando e implorando a Deus para garantir-lhe o presente da constante virgindade. Ele rezou pedindo para que tivesse forças de sempre fazer aquilo que acabara de fazer. E, rezando, ele caiu no sono. E então, enquanto dormia, dois anjos vieram para dizer-lhe que Deus tinha ouvido suas preces. Assim, após amarrarem suas entranhas tão fortemente que ele até mesmo sentiu a dor, disseram a ele: ‘Em nome de Deus, nós o amarramos conforme você pediu para ser amarrado, com um laço da castidade que nunca será perdido’. Aquele toque sagrado dos anjos o acordou, chorando alto com a dor; mas, àqueles que o escutaram chorar e vieram correndo perguntar o que o afligia, ele nada disse da visão. E, até o fim de sua vida, ele manteve a visão em segredo, exceto ao irmão Reginaldo, seu socius e íntimo, a quem Tomás falou daquilo humildemente. Mas, daquele momento em diante, foi seu hábito sempre evitar a visão e a companhia de mulheres – exceto no caso de necessidade ou utilidade –, como um homem evita as cobras.
- “As primeiras setas que ferem as almas castas, e não raro as matam, entram pelos olhos”. (São Bernardo)
- “Não é lícito contemplar ou extasiar-se com a vista daquilo que não é lícito desejar, pois, ainda que expulsemos os maus pensamentos que costumam seguir o olhar voluntário, deixam sempre uma mancha na alma”. (São Gregório)
- “As tentações que levaram São Bento a revolver-se em espinhos provieram de um olhar imprudente sobre uma senhora”. (São Gregório)
- São Jerônimo, achando-se na gruta de Belém, onde continuamente orava e macerava seu corpo com as mais atrozes penitências, foi por longo tempo atormentado pela lembrança das damas que vira tempos antes em Roma.
Estariam os santos, de diversas épocas, errados? É patente que não: “Não contemples a beleza alheia; disso origina-se a concupiscência, que queima como o fogo” (Eclo 9, 8) e “O sábio teme e foge, diz a Sagrada Escritura; só o louco confia em si mesmo e sucumbe” (Pr 14, 10). Como se vê, os santos não fazem mais que seguir o Magistério e a Bíblia. Percebem como isto está entrelaçado?
Poderiam, por outro lado, objetar que atacam a vestimenta das mulheres, mas que nada é dito sobre os homens que usam sunga. Novamente, com a devida vênia, quem diz isso erra essencialmente. Acidentalmente de fato pouco é dito sobre os homens, mas o fato de ser pouco dito não torna a ação verdadeira, pois o certo é certo mesmo que ninguém diga que é. Estão errados os homens que usam sungas e as mulheres que usam biquínis; estão errados os que vestem roupas curtas ou apertadas em academias ou “baladas”; e estão errados, por fim, aqueles que olham com desejo, pois deveriam correr (literalmente) de tais tentações. Erram, dessa maneira, pelo mesmo princípio, os quais já foram apontados aqui.
Por fim, se, ao se mostrar que a pessoa está errada por vestir biquíni ou sunga e, dessa forma, peca mortalmente, alguém ainda apelar para aquela velha frase descontextualizada que diz, “Não julgueis para não ser julgado”, mostramos que esta pessoa também está errada. Além de ser um grande absurdo citar trechos descontextualizados, pois isso coloca a Bíblia como contraditória, os seguintes trechos vão contra o que se diz:
“Não julgueis segundo a aparência, mas JULGAI segundo a reta justiça”. (João 7,24)
“Então voltareis e vereis a diferença entre o justo e o ímpio; entre o que serve a Deus, e o que não o serve”. (Ml 3,18)
“E aconteceu que, no outro dia, Moisés assentou-se para JULGAR o povo; e o povo estava em pé diante de Moisés desde a manhã até a tarde”. (Êxodo 18,13)
“O rei que JULGA os pobres conforme a verdade, firmará o seu trono para sempre”. (Pv 29,14)
“Fazer justiça e juízo é mais aceitável ao Senhor do que sacrifício”. (Pv 21,3)
Ora, julgar é emitir um juízo verdadeiro ou falso sobre as coisas. Isso faz parte do nosso intelecto, é a 2ª operação deste, como ensina Aristóteles, a quem segue nosso Doutor dos doutores, Tomás de Aquino. Dizer que não devemos julgar é o mesmo que dizer: não pense. Mas Nosso Senhor Jesus Cristo, quando citou “Não julgueis para não serdes julgados”, falava acerca do julgamento impertinente e temerário. Um outro exemplo seria: como se diria que aquele personagem brasileiro, o INRI Cristo, não é mesmo Cristo? Ora, é simples, julgando! Além disso, Santo Tomás de Aquino, no artigo em que ele explica “se é lícito julgar”, diz o seguinte: O segundo discute-se assim. – Parece que não é lícito julgar. Mas, em contrário, a Escritura: Estabelecerás juízes e magistrados de todas as tuas portas, para que julguem o povo com retidão de justiça.
SOLUÇÃO. – O juízo é justo na medida em que é um ato de justiça. Ora, como do sobredito resulta, três condições se exigem para que um juízo seja um ato de justiça: primeiro, que proceda de uma inclinação justa; segundo, que proceda da autoridade do chefe; terceiro, que seja proferido pela razão reta da prudência. A falta de qualquer delas torna o juízo vicioso e ilícito. – De um modo quando vai contra a retidão da justiça. E, então, o juízo se chama pervertido ou injusto. – De outro modo, quando julgamos daquilo para o que não temos autoridade. E, então, o juízo se chama usurpado. – De terceiro modo, quando falta a certeza da razão; assim, quando julgamos do que é duvidoso ou oculto, levados por leves conjecturas. E, então, chama-se o juízo suspeitoso ou temerário.
Como podemos ver, é pecado: a ignorância vencível, o escândalo e a impureza. Por conseguinte, o uso de biquíni por mulheres e de sunga por homens, como também o uso de roupas apertadas e curtas, seja em academia ou “baladas”. E digo isso me baseando naquilo que se encontra nas Sagradas Escrituras, no Magistério e nos santos. Mas mesmo podendo parar por aqui a explicação acerca disso tudo, quero ainda citar outro padre contemporâneo nosso. Refiro-me ao padre Paulo Ricardo, cuja posição teológica divirjo, mas que neste assunto explica muito bem acerca do tema. Transcrevo aqui a explicação do seguinte link:
“É pecado usar roupas curtas ou colantes?”
Afinal, é pecado usar roupas curtas ou colantes? Para responder a essa pergunta, nós temos que entender o que é a moral cristã. Jesus resumiu a moral cristã num amor a Deus e no amor ao próximo como a si mesmo. Então existem aí três capítulos: nós temos que amar a Deus, nós temos que amar ao próximo e nós temos que amar a nós mesmos.
Primeiro vamos começar com o mais evidente. Se você veste roupas sensuais, você está faltando com a caridade para com a próximo, porque está colocando o próximo em ocasião de pecado. Ou seja, não adianta você chegar e dizer: eu me visto do jeito que eu quero, e o outro é que olha para mim com maldade. Isso é simplesmente falta de honestidade, você sabe muito bem. Vestir-se de forma sensual irá fazer com o que o outro olhe para você como objeto, e isto é um grave pecado da parte dessa pessoa. O próprio Jesus disse: quem olha para uma mulher (e isto vale também para os homens) desejando-a no seu coração, cometeu adultério. Então vamos levar a sério o que Nosso Senhor nos ensina.
Em segundo lugar existe um pecado contra você mesmo, porque você tem dignidade, você tem valor. Você não pode se vestir aviltando, degradando a sua alta vocação. Você é templo do Espírito Santo. Você tem que se amar. E aquilo que tem valor, aquilo que é amado, a gente guarda, a gente cuida. O mundo que está aí, um mundo marcado pelo pecado original, essas pessoas não amam você. Uma coisa é você se desnudar diante do seu marido, diante da sua esposa, que você sabe que ama você e não vai olhar você como objeto, afinal vocês já se convivem o suficiente, um já sabe o defeito do outro, as qualidades do outro, já conhece a alma do outro. Conhece tanto que pode ver a pessoa desnuda. Mas o mundo não nos ama, e por isso devemos esconder aquilo que temos de precioso.
Também porque, veja, existe uma lei espiritual. Quando você mostra o seu corpo, você esconde a sua alma. Quando você olha para uma pessoa rebolando em cima do carro alegórico, desnuda, seja homem, seja mulher, você não olha para aquela pessoa como alguém que tem alma, que tem virtudes, que tem qualidades espirituais. Você olha como um pedaço de carne. Como um animal na jaula de um zoológico, onde você vai lá e põe o dedinho para ver como está funcionando aquele animalzinho, aquele macaquinho. Pois bem, é atentar contra sua própria dignidade.
E, finalmente, a falta de amor a Deus. Porque tantas pessoas gostariam de se vestir de forma adequada, mas sentem temor mundano. Ou seja, querem agradar aos colegas: ah, você vai ser tratado como um antiquado, um medieval, um fora de moda, um beato, um carola, um fanático. Pois bem, você está querendo agradar mais ao mundo que a Deus, e com isso peca também contra Deus.
Um pecado de falta de caridade para com Deus, para com o próximo e para com você mesmo. Veja como o amor tem que estar em tudo, até mesmo no vestir. Por isso, faça um ato de amor, a próxima vez que você escolher seu vestuário, quando abrir seu guarda-roupa para escolher, lembre: você é alguém que ama.
Mas se mesmo assim a pessoa ainda não estiver convencida, este vídeo do padre Leonardo Wagner, da Administração Apostólica (o qual também divirjo essencialmente no contexto teológico), mostra uma posição mais simples e direita:
Agora, sim, termino este documento. Espero, de verdade, que algo mencionado aqui faça sentido no futuro. Sejamos santos e ajudemos as pessoas a serem santas; não acidentalmente, mas afastando-as dos pecados. A falta de força moral para aplicar a verdade, que se encontra na Santa Igreja Católica, não significa que ela mesma esteja errada. É algo lógico. Um padre que comete abusos sexuais não diz nada sobre a verdade da Igreja, assim como “católicos” liberais modernistas que aceitam sungas, biquínis e roupas apertadas (em praias, academias, “baladas”, seja onde for), dizem nada sobre a verdade da nossa santa doutrina.
Claro, infelizmente somos pecadores (e alguns dirão com empáfia: “ah, eles se acham santos!”). Mas não caiamos no desespero e escrúpulo de Lutero de achar que sempre pecamos e, por isso, devemos pecar muito, mas amar a Deus mais ainda. Patente erro, uma vez que, enquanto pecamos, nos afastamos de Deus, como qualquer católico médio deveria saber. E o pecado, no contexto deste documento, envolve a ignorância, o escândalo e a impureza (o biquíni e a sunga?! Nem se fala!). Lembremos então das palavras de São Jerônimo: “O diabo não procura os homens infiéis, que estão fora, cuja carne o rei assírio já queimou na fornalha. É a Igreja de Cristo que ele se apressa em arruinar”.